A cultura e os valores – Carlos Veiga
A cultura e os valores - Carlos Veiga
Carlos veiga

A cultura possui responsabilidades enormes na promoção de valores de natureza humana, ética e espiritual aglutinados num mesmo diagnóstico e prisma conceptual e etimológico, distendendo-se ao facto de que, quer a cultura quer a valoração ou conjunto de valores encontrão explicação em sede própria.

Desde logo, escalpelizando o sentido etiológico próprio do latim cultus-us, substantivo da quarta declinação que significa o culto (em nominativo), isto é, caso do sujeito e nome predicativo do sujeito e, já agora (enunciado no genético), igualmente, do singular, caso do complemento determinativo, significando do culto.

Obviamente que a palavra cultura ora prolatada será entendida no sensu pedagógico e teológico, designando-se como cultura do espírito, formação do espírito, educação, prática duma religião, prática reiterada, culto, reverência, adoração, cultus in regem (respeito pelo rei), elegância, luxo, aparato, ornamentação.

Sobre os Valores, por seu turno, concorrem, propter para a axiologia, assente na moral, estudo especializado do bem e mal na perspectiva da aplicação multifacetada, o que se difere da ética geral, simplesmente saber julgar ou ver o bem e o mal, i.é, ethós do grego, que é, no fundo, cultura no sentido de etnia, costume, tendo em atenção a recta ratio , a consciência sobre a vontade e a razão, ou seja, sobre a racionalidade.

Se por um lado, a ética em si, se restringe ao estudo do bem e do mal, já a moral (mors) se refere a várias especialidades aplicáveis ao estudo de valores tipo deontológicos, et cetera, havendo, por via disso, valores vários. Ou seja, dito deste modo, cada ente passa a ter o seu valor. Tudo é um valor ou representa um valor intrínseco.

Feito o primeiro enquadramento, não seria despiciendo, prosseguir dizendo que na nossa realidade administrativa ou estadual, até porque a missão e o fenómeno religioso está adjudicado ao departamento ministerial que cuida da parceria com a Igreja que, de modo geral, é uma sociedade humana que se rege pela sua religiosidade e/ou fundada por Cristo.

O Dr. Pedro de Castro Maria, sociólogo, rebuscando o artigo 13º do Manual de Instrução para Candidatos a Membros da Igreja Metodista Unida refere, nem sempre ipsis verbis, a Igreja como “(…) uma congregação de fieis na qual se prega a pura palavra de Deus e se ministram devidamente os sacramentos com todas as coisas a eles necessárias, conforme a instituição de Cristo”. Trazendo a sua especialidade sobre a sociologia, o pesquisador Pedro de Castro que não deixou de citar o reformado Bispo Emílio de Carvalho, igualmente, perspectivou Émile Durkheim que concebeu a igreja como uma colectividade fundada num mesmo sentimento religioso, ou seja, que partilha a fé comum…” (in JÁ, Ano 47; nº 17482; pág.15).

Vale por dizer que os homens que compõem a referida sociedade religiosa são tementes a Deus e estão ligados através do conceito da Religião adveniente do religere como inculcava o Padre Alexandre Chocolate Pambo nas suas lições sobre Religião, substituindo a disciplina da História da Salvação.

Contanto, implica que o que estiver ligado na terra, estará ligado nos seus. E foi no curso de filosofia que, pela primeira vez, ouvi da parte do agora jurista Lourenço Luemba dizer que o que está imanente no corpo está ligado no espírito.

Neste contexto, será mister dizer que o Estado angolano respeita a fé dos cidadãos e suas respectivas confissões, não se opõem nem interfere, mas respeita com base no que vem na ratio, fundamentalmente, no disposto nos n.ºs 1 e 2 do artigo 10º da Constituição da República de Angola.

Por força da hermenêutica do artigo supra, fica em aberto o relacionamento entre o Estado e as igrejas e se abre o fenómeno inculturação, podendo existir valores culturais do múnus cristão e da realidade bantu.

Importante é agora promover e explicar como. A lei não distingue, pede apenas o respeito aos padrões inseridos na etnicidade (ethós/ética) e nos valores.

Dixit.

*Antigo Seminarista, filósofo, jornalista e jurista


Ipsis verbis = justamente
Religere = Religar (da Religião)
Recta ratio = racionalidade/recta razão

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