“A minha carreira está perto do fim” – Tiago Azulão, um dos maiores goleadores do Girabola
"A minha carreira está perto do fim" - Tiago Azulão, um dos maiores goleadores do Girabola
Tiago azulao

Técnicos Beto Bianchi e Flávio são os responsáveis pelo regresso do brasileiro à posição atacante. A seca de golos dos atacantes do Petro de Luanda foi como o mal que veio para bem de Tiago Azulão. Contratado como reforço da segunda volta do Girabola 2016, o ignoto médio começou a assinar o livro dos golos na conta dos avançados, motivo por que o técnico Beto Bianchi acabou por dar o seu ao seu dono, ou seja, o brasileiro deixou de actuar no meio-campo e pegou de estaca no ataque.

Além de resolver em definitivo a questão dos golos, Tiago Azulão também entrou para a história do Petro e do futebol nacional como um dos maiores goleadores de sempre.

A mais de centena de golos de tricolor ao peito e os quatro títulos de goleador do campeonato trazem à superfície as várias “nuances” da carreira do capitão do Petro de Luanda, que nesta longa entrevista ao Jornal dos Desportos falou de tudo, das alegrias e tristezas desde que chegou ao Catetão.

Elogiou Bobó, central do 1º de Agosto, e ainda teve tempo para falar dos conselhos que dá ao colega Gilberto, várias vezes associado a clubes estrangeiros.

Quando chegou ao Petro de Luanda foi apresentado como médio, mas num ápice começou a destacar-se como goleador. Trouxe já consigo a veia goleadora ou a descobriu ao serviço do tricolor?
Antes de vir para o Petro, eu já tinha comigo essa veia goleadora. A Portuguesa jogava sempre com dois avançados e eu já nesta função de segundo avançado, mas ao longo da minha carreira, quando cheguei ao plantel profissional, comecei a desempenhar outras funções como médio. Seis anos depois, quando chego ao Petro voltei a jogar mais à frente graças ao “Mister” Beto Bianchi e o Flávio, que tiveram esta visão e as coisas aconteceram, voltei a marcar golos, tornei-me referência atacante.

Ter jogado noutras posições durante muitos anos, facilita a sua movimentação dentro da área?
Eu acho que o que facilitou mais foi a minha consciência táctica, porque além de avançado eu sou um jogador que ajuda muito a equipa nas tarefas defensivas. Sempre foi assim. Nas bolas paradas eu também recuo para sermos mais fortes defensivamente. Além de ser um jogador que marca golos, também desempenho uma tarefa táctica, às vezes pode não parecer. Então, foi essa variação de posições em campo, que me permitiu agregar mais coisas ao meu futebol.

A polivalência aprimorou o teu poder de finalização?
A parte de finalizar bem sempre esteve comigo desde às camadas de formação. Ao serviço do São Paulo eu fui o melhor marcador, então, o que está a acontecer aqui em Angola para mim não é novidade, embora ao longo da minha carreira tenha havido essa mudança na minha posição em campo.

Ao longo das épocas o teu futebol sofreu variações, num determinado momento começou a destacar-se como um exímio jogador de área, sobretudo no jogo aéreo. Como se sente mais confortável em campo? a vir de trás para frente ou “estático” na área à espera de ser servido?
Eu defino-me como um jogador que gosta de ter bola! Se você quiser perceber o meu jogo, vai notar que eu nunca estou parado na área, eu recuo para buscar a bola, descaio para as laterais, movimento-me constantemente, porque sempre fui um jogador de muita resistência física. Nunca fui rápido, veloz ou velocista, porém, tenho muita resistência. Eu consigo fazer o jogo na minha intensidade, mas aguento bem os 90 minutos, porque estou sempre a procurar a bola. Tento procurar espaços e, quando a bola chega à área, tenho a facilidade de atacar bem com os pés e com a cabeça.

Em função dos golos que marca, dá a sensação de que a cabeça é o seu ponto forte…
Eu acho que uns 40 por cento dos golos marcados ao longo da minha carreira foram de cabeça. Quando você se movimenta bem e conhece os seus pontos fortes, só tem de saber usar isto em teu proveito. Muitos dos jogadores que passaram pelo Petro, como o Job, sabiam que eu atacava bem a bola, por isso cruzavam bem para que eu pudesse atacar de cabeça e fazer os golos. Eu desde muito novo sempre tive este dom de atacar bem a bola de cabeça!

Com os pés, vemos que quase não utiliza o esquerdo para rematar. O direito é o seu pé forte?
Eu gosto de utilizar os dois pés, remato com os dois, mas, naturalmente, tem sempre aquele pé mais forte. Obviamente, que nestes casos, você tem de procurar fazer a jogada para poder finalizar com este pé forte. Qualquer avançado faz sempre isso, se reparar o CR7 também faz isto, a maioria dos golos dele é de cabeça e de pé direito, tem poucos golos com o pé esquerdo. Este tipo de atitude é normal nos avançados, mas eu tenho a facilidade de chutar com os dois pés.

Às vezes, notamos que marca golos a rematar mais em jeito do que em força, mas faz pouco uso deste recurso. Tem alguma explicação para isto?
Eu acho que o futebol é imprevisível. Quando o jogo está a decorrer, você nunca consegue pensar na maneira como vai finalizar assim que receber a bola. Claro que nós temos características próprias, mas rematar desta ou daquela maneira depende muitas vezes da forma como a bola chega, nestes casos tens de usar a forma mais fácil de chegar ao golo. Eu dificilmente faço golos de fora da área, no Petro devo ter por aí uns cinco golos marcados, fora da área, tem vezes em que isso acontece. O golo fora da área fica sempre mais bonito, porque exige força, em função da distância em que rematamos, porém, é outro estilo e fica mais difícil de acontecer.

“Procuro sempre evoluir”

Se tivesse chegado mais cedo ao Petro estaria com esta veia goleadora ou estaria a lutar para melhorar os níveis de eficácia?
Passei vários momentos desde que cheguei ao Petro, afinal são sete épocas em que já peguei momentos difíceis, equipas melhores, outras mais ou menos, mas eu consegui marcar golos. Se chegasse antes, não sei se teria mais ou menos golos. Acho que seria o mesmo porque sou uma pessoa que trabalha muito, dedico-me aos treinos. Além do meu talento, eu procuro estar sempre concentrado, evoluindo a cada dia, para poder continuar a fazer o meu melhor. Então, eu acho que depende mais de mim do que do resto. Claro que quanto mais você estiver rodeado de jogadores de qualidade, o teu futebol evolui mais.

Mas há época passada foi diferente. Houve enorme colheita de golos…
Verdade! A época passada marquei trinta e nove golos. Obviamente que também foi mérito da equipa técnica e dos colegas. Todas as nossas conquistas individuais têm sempre um quê de colectivo porque ninguém ganha nada sozinho.

Nas duas últimas temporadas, o Petro fez a dobradinha. Podemos considerar os pontos altos da sua carreira em Angola?
Você resumiu bem tudo! Os dois últimos anos foram de ouro para o Petro. Não sei se antes disso, já tinha conquistado três taças de Angola e dois campeonatos seguidos, sempre com dobradinha.

Já aconteceu isso uma única vez, 3 taças de 1992 a 1994 e duas dobradinhas em 1993 e 1994, sempre sob comando técnico de Goicko Zec…
Não sabia disso, mas eu gostaria também de salientar que além dos títulos internos, também estivemos na época passada numa meia-final da Champions. São dois anos de ouro, todos ficamos na história. Estes são os melhores momentos. Acho que nos últimos 20 ou 15 anos, o clube nunca conquistou tantos títulos num curto espaço de tempo.

Antes da bonança actual houve a tempestade na qual você também se molhou…
Sim, é verdade! Agora estamos bem, mas também tivemos momentos difíceis, porque o Petro ficou 12 anos sem ganhar o campeonato. Aí não é somente eu a ficar marcado pela tristeza, mas todos os que passaram na equipa durante esses 12 anos, sem o título do campeonato. Vou incluir as vezes em que o Petro ficou fora das competições africanas. Foram, sem dúvidas, momentos difíceis da história do clube, mas conseguimos quebrar o jejum de longos anos.

“Não podemos menosprezar os outros treinadores”

Antes o Petro era a equipa do quase no campeonato, mas nas duas últimos épocas, manteve-se como que imperturbável até à conquista final. Que explicação tem para nos dar, tendo em conta que é dos mais antigos e experiente atletas do plantel? Aliás, você falhou um penálti diante do Sagrada Esperança no jogo que definiu o campeão da época 2020/21?
Desde que cheguei, o Petro foi vice-campeão diversas vezes. Quando você termina em segundo lugar é porque esteve perto de ganhar. Obviamente que só ganha um, mas foram nos detalhes em que perdemos. Você sabe que no nosso campeonato acontecem muitas coisas. Houve anos em que ficamos sem entender diferentes decisões dos árbitros que nos prejudicaram. Houve ocasiões em que a bola não entrou, mas foram marcados golos contra nós, outras vezes a bola entrou, mas não valeu, enfim, foram momentos difíceis de compreender certas coisas que nos impediram de ser campeões.

Não estará o Tiago Azulão a inventar desculpas de mau pagador?
Não estou a tirar o mérito dos rivais que foram campeões! Os que ganharam também é porque tinham boas equipas, mas o Petro também teve os seus méritos. Não podemos menosprezar o trabalho dos treinadores que aqui passaram antes do Alexandre Santos, nem os plantéis anteriores que sempre lutaram até ao fim, mas houve detalhes que impediram as coisas de acontecer. Mas sabíamos que um dia as coisas iriam acontecer. E foi realmente isto o que aconteceu. O detalhe às vezes aparece num jogo como no clássico que às vezes define o campeonato. Mas tudo já passou e os anos de glória do Petro estão felizmente de volta!

Por falar em detalhes: o ano passado ganharam o campeonato com alguma tranquilidade, para não dizer facilidade, mas na época 2022/23 já não vimos o mesmo Petro demolidor. A diferença entre os dois desempenhos esteve nas meias-finais da Champions 2021/22?
Realmente! Há coisas que às vezes acontecem de maneira inesperada, mas que acabam sempre sem querer por mexer com as nossas cabeças. Nós na Champions 2022/23 que terminou com a consagração do Al Ahly pensávamos que iríamos nos apurar, mas no jogo com o Kabylie (da Argélia) não correu tão bem como queríamos. Essas são coisas que mexem um pouco com o nosso subconsciente, o grupo era muito forte, o ritmo dos jogos sempre elevados, havia muita intensidade no nosso jogo, mas tivemos o azar de não nos apurar.

Esse azar resultou em intermitência interna?
Claro que isso afectou a equipa no campeonato. Tivemos algumas situações que surgiram depois da nossa eliminação na Champions, mas tivemos forças para conquistar o Girabola e a Taça de Angola, terminámos o campeonato com oito pontos de vantagem sobre o 1º de Agosto. Aceito que houve uma ligeira quebra, mas voltamos fortes para fazer a dobradinha.

Com Alexandre Santos vemos uma equipa que se mantém inabalável, não importa as adversidades por que passa. Era isso o que faltava, por exemplo, na era Beto Bianchi?
Eu sou uma pessoa muita grata a todos que me ajudaram ao longo da minha carreira! Se fosse possível citar todos numa entrevista, eu citaria todos, mas respondendo à pergunta: o Bianchi e o Flávio foram as duas pessoas que tiveram a visão para que as coisas, refiro-me aos golos, fossem surgindo. Obviamente os muitos golos que marquei na época passada, repito que foram trinta e nove, para ser bicampeão é graça também ao treinador Alexandre Santos. Os colegas também têm mérito nisto, mas é a actual equipa técnica que teve a capacidade de criar uma equipa agressiva, que toca bem a bola, essa equipa técnica teve a virtude de potenciar mais o meu futebol e a minha maneira de jogar, isto é nítido para todos, até para quem não é do Petro.

Ainda consegue lembrar-se do teor da primeira conversa que teve com o técnico Alexandre Santos?
Acima de tudo ele me transmitiu confiança! Disse-me que eu faria muitos mais golos do que nas épocas anteriores e aconteceu. O Bianchi e o Alexandre Santos são dois treinadores diferentes, cada um deles com o seu estilo marcante, com épocas diferentes ao serviço da equipa, mas eu sou muito grato a cada um deles por ajudar-me de alguma maneira ao longo da minha carreira.

“Derrotas com o 1º de Agosto pouco importam”

O 1º de Agosto é um rival entalado na garganta dos jogadores do Petro? Pergunto isto porque nas duas últimas épocas, o campeão quando não marcou primeiro acabou sempre por dominar o jogo, mas no final ou empatava, ou perdia…
(Risos…) As derrotas com o 1º de Agosto pouco importam, porque o que nos interessa é que fomos campeões! Mas, obviamente, sabemos que o clássico mexe com todos, inclusive os adeptos. Queremos sempre ganhar o clássico, mas houve anos em que ganhei o clássico, mas não ganhei o campeonato, por isso acabei por ir muito triste de férias. Na época que terminou, massacramos o 1º de Agosto nos dois jogos, fomos muito melhores, no jogo da primeira volta eles tomaram um baile, mas no fim fizeram um golo no contra-ataque.

Esta é a derrota mais dolorosa que sofreu nos clássicos?
Sim! Repare que eles nem conseguiam tocar na bola, mas o futebol é assim, é o detalhe, é o momento, eles fizeram um golo e ganharam. O que vale no futebol é o resultado, vai ser sempre assim!

Até que ponto a maneira como o 1º de Agosto festejou na segunda volta criou revolta no Petro e serviu de ponto de viragem para o título? Lembro-me que o Soares no fim do jogo dizia que não entendia por que havia aqueles festejos, pois havia muito campeonato por disputar.
Não foi um ponto de viragem para nós, porque o nosso grupo de trabalho está sempre focado nos seus objectivos, não importa o que acontece. Ainda assim, eu devo dizer que com aqueles festejos, eles deram-nos mais de combustível para acreditarmos que seríamos campeões.

Em algum momento vocês temeram que aquela derrota, em meio ao mau desempenho na Champions, seria uma via aberta para o título do 1º de Agosto que começou o campeonato desacreditado?
Isto nunca aconteceu, pois, realmente, desde o início do campeonato que já tínhamos essa crença de que seríamos campeões no final da época, porém, naquele jogo da segunda volta, eles deram-nos um pouco mais de combustível, porque venceram. Perdermos. Eles comemoraram no momento errado e foi isso o que aconteceu… (pausa e risos) mas na hora da verdade, o Petro é quem acabou por ser campeão!

“Temos bons jogadores no Girabola”

A que conclusão chega quanto à qualidade do campeonato, face às várias questões extra-campo que surgem sempre em cada época. Por exemplo, há a questão relevante do 1º de Agosto assolado por problemas financeiros, clubes que ameaçam ou que acabam mesmo por desistir da competição?
O Girabola já não tem o mesmo nível de qualidade que teve anos atrás, mas também sabemos por que isso está a acontecer nesses últimos anos. Precisamos de mais investimentos, de mais empresários que aceitem investir no campeonato, que apareçam todos os que conseguem agregar alguma coisa ao campeonato, para que as equipas consigam pagar sempre os salários dos jogadores. Que todas as equipas tenham condições de viajar para fazer os seus jogos.

E que papel podem desempenhar os atletas neste crescimento?
É preciso que cada jogador consiga dinamizar o seu futebol, é necessário que venham mais estrangeiros de qualidade para o Girabola crescer. Tudo o que eu estou a falar não é novidade, mas é importante que as coisas aconteçam desta maneira. Torço muito para o Girabola melhorar, que os atletas sejam mais valorizados, temos muitos bons jogadores e boas promessas, mas sem investimentos não chegamos lá.

Quando fala de investimentos, também está a incluir os estádios do campeonato?
O mundo inteiro passou por um processo de evolução, mas se você não quiser evoluir não tem como chegar à qualidade desejada. No Girabola há campos que sinceramente são impraticáveis para o futebol profissional e para jogos de um Campeonato da Primeira Divisão. Nunca deveriam permitir que estes campos fossem utilizados para jogos do Girabola.

A crise económica não justifica tudo. É isto?
Realmente! Nós conhecemos qual é a realidade do país, mas tem de haver cobrança, tem de haver melhoria nas coisas, o investimento tem de ser em tudo para resultar em coisas como condições logísticas para as equipas, bons estádios, boa organização e menos situações como aquela que aconteceu nesse último campeonato com o Sagrada Esperança no jogo da segunda volta.

Por que dá ênfase a esse jogo com o Sagrada?
O que aconteceu lá (no Dundo) foi muito vergonhoso! É uma coisa que mancha o próprio futebol, houve arremessos de pedras no relvado, enfim muita confusão. Como eu dizia antes, todos temos de nos esforçar em melhorar para que o nível do campeonato, incluindo a maneira como é organizado, seja melhor.

“Há pouca informação sobre o campeonato”

Quando vão em gozo férias nos vossos países, costumam ser abordados por colegas de profissão interessados em saber do nível do campeonato e da possibilidade de também jogar no Girabola?
Infelizmente, há muita pouca informação no mundo do campeonato angolano, mas isso é normal porque é um problema de África. Ou seja, ouve-se falar muito pouco dos campeonatos africanos, obviamente que acontece também com o Girabola, mas com a nossa ajuda, com as redes sociais, com tudo aquilo que fazemos aqui há alguns jogadores que já cá estiveram através das informações que receberam de nós. Falo no caso concreto dos brasileiros do Petro, os portugueses também já nos pediram informações. Ainda assim, há muito pouca informação lá fora sobre o campeonato, mas acredito que as coisas podem evoluir com mais transmissões televisivas.

Consegue adiantar nomes de estrangeiros que chegaram ao Girabola com as tuas informações?
Todos os que vieram depois de mim. Por exemplo, eu e o Toni jogamos juntos no Brasil, ele ligou para saber como eram as coisas e quando veio tornou-se uma das referências aqui. Acho que deve ter mais de 50 golos com a camisola do Petro. Outros não nos conhecíamos antes, mas vieram por meio de um feedback positivo que receberam.

CONFISSÃO: “A minha carreira está perto do fim”

Daqui a mais quantos anos continuaremos a ver o Tiago Azulão no Petro?
(Risos…) Eu gostaria imenso de estar em condições de poder responder a esta pergunta. Na verdade, eu tenho mais um ano de contrato com o Petro, espero terminar muito bem este último ano de contrato, obviamente que a minha carreira agora está muito mais perto do fim, mas quando eu sentir que o meu corpo e a minha mente já não conseguem mais corresponder com os níveis competitivos desejados, aí sim encerrarei a carreira, seja no Petro, seja num outro lugar. Por enquanto, só me resta preparar-me bem para a próxima época.

Podemos vê-lo ainda no activo até chegar aos 40 anos?
Tudo vai depender mais do meu corpo. A minha cabeça até pode querer chegar aos 40, mas é o físico que vai ter de mandar mais, porque chegará um tempo em que vou chegar ao meu limite. Ainda me sinto bem para continuar.

Se fosse o treinador da equipa, em que sectores retocaria mais com os reforços?
Eu não gostaria muito de fazer comentários a respeito, porque em todas as posições temos muitos bons jogadores. Infelizmente, só podem entrar onze de início, isso significa que uns terão menos espaço de utilização do que os outros. Não cabe a mim definir o perfil dos reforços. Todos os jogadores que chegam ao Petro têm qualidade. Graças a Deus, temos bons treinadores e dirigentes, que conseguem sempre ter esta visão de trazer bons atletas para fazermos e termos excelentes elencos. Eu acredito que quem vier e nas posições que o treinador quiser, vai trazer benefícios para todos!

Em duas épocas seguidas, o Petro perdeu o Job e o Gleison, que eram dois bons servidores para o Tiago Azulão. Com as ausências deles terá de reinventar a sua forma de jogar, ou há jogadores no plantel capazes de continuarem no papel de “garçons”?
Eu acredito que não precisarei de fazer nenhum tipo de reajuste, porque todo o reforço que vier tem de adaptar-se ao tipo de futebol da equipa. Temos um estilo bem definido, mas é óbvio que o treinador às vezes varia e introduz coisas novas, mas quem chegar tem de entrosar-se com os que estão. Já quem cá está tem a obrigação de continuar a desempenhar bem o seu papel, mas a grande verdade é que só quando estivermos a efectuar jogos é que veremos se as coisas estão mesmo a fluir com os novos reforços. Os antigos já se conhecem bem, mas queremos que quem chegue também dê conta do recado!

Se lhe dessem o direito de escolher como reforço um jogador do Girabola, a quem indicaria?
(Risos…) Esta é uma pergunta da qual eu prefiro fugir! Jamais falaria disto em público, até pela responsabilidade e pelo peso que tenho. Não cabe a mim responder. O Girabola tem jogadores de boa qualidade. O Petro deve estar atento e trazer algum jogador que se tenha destacado no campeonato na época passada.

“Gilberto tem potencial”

Na época 2021/22, o Depu estava isolado na artilharia do campeonato, mas ficou lesionado. O Tiago Azulão recuperou bem, fez uma boa ponta final, porém, ficou claro diante do Sporting de Cabinda que aquele era o jogo para conquistar a “Bota de Ouro” do campeonato, como veio mesmo a acontecer…
Tens razão! Nesse jogo, os colegas fizeram de tudo para eu ultrapassar o Depu. Lembro-me, inclusive, que o Érico fez uma assistência e comemorou como se fosse um golo dele. Quando o grupo pensa no colectivo estas coisas aparecem com naturalidade. Graças aos colegas já consegui ser quatro vezes artilheiro do campeonato.

Quando o Petro comemorou o bicampeonato, diante do Interclube, o Gilberto realçou a importância e a boa época do Tiago Azulão. Com base nisso, podemos concluir que há um treinador escondido dentro de ti?
Isto acontece naturalmente. Tento sempre ajudar os jogadores novos quando chegam ao clube. O Depu apareceu bem, mas depois lesionou-se, então, procurava transmitir-lhe confiança. Ele teve momentos difíceis, mas voltou e ajudou-nos em muitos momentos difíceis, deu a marcar, também marcou golos importantes. Com o Gilberto aconteceu o mesmo. Precisava ser bem acolhido para fazer o que fez no Petro.

O Gilberto chegou e começou a destacar-se de imediato na pré-época…
Sim! Durante a pré-época ficou evidente que o Gilberto tinha potencial e que poderia nos ajudar. Ele ouve os meus conselhos, respeita-me e admira-me. Dentro de campo conseguimos bom entrosamento, ele pode fazer golos e assistências. Eu agradeço o reconhecimento dele, mas é minha missão ajudá-lo, tudo o que fiz surtiu efeito na vida dele. Graças ao talento dele foi eleito o melhor jogador do campeonato.

Falou-se muito numa possível saída do Gilberto para um clube europeu. Com base na sua experiência em Angola e no Chipre, acha que esta é a hora ideal para o jovem sair?
Acho difícil de responder, porque nestes casos o que vale mais não é o conselho, é mais uma questão de perguntar ao Gilberto o que ele quer. É lógico que se for um sonho não tem como, porque ninguém consegue interferir. Se é sonho dele ir à Europa, tem de ir realizar, mas se for para igualar com o que tem aqui ou for uma situação menos boa, obviamente iria aconselhá-lo a ficar mais um ano.

“Liga Angolana? Temos de ver na prática”

Ultimamente, fala-se muito que Angola tem de ter uma Liga. Para vocês que vêm de fora e trazem outra realidade, é a solução esperada nesta altura?
Sim! Se trouxer os investimentos necessários. Claro que vai melhorar a imagem do futebol angolano. Se for para evoluir, para deixar as coisas mais profissionais, será sempre bem-vinda. Mas temos de ver isso, na prática!

Para quem como o Azulão tem uma vasta experiência nas competições africanas, que vantagens mais pode trazer a Superliga?
Pouca gente assiste ou vê futebol africano. Mas na Superliga vão estar as oito melhores equipas do continente, pelo que sei vai ser transmitida em vários canais mundiais, por isso a visibilidade vai ser maior e a exigência relativamente aos estádios. Acho que vai ser um espectáculo muito grande, um teste para as outras Superligas que eles pretendem criar no mundo, mas graças a Deus seremos nós a começar. Que tudo corra bem ao Petro, que consiga chegar o mais longe possível, que consigamos fazer uma boa prova nesta espécie de mini torneio.

O que falta para o futebol angolano através do Petro ou outra equipa conquistar um título continental?
A diferença no investimento relativamente às equipas da África do Norte é muito grande. Eles podem comprar jogadores que custam milhões de dólares aos quais pagam altos salários, que não se comparam com o que temos aqui. Ainda assim, o futebol é feito dentro de campo, na época 2021/22 eliminamos o Mamelodi Sundown, um dos clubes mais ricos da África do Sul e com mais investimentos do que nós. É claro que sonhamos em ganhar, trabalhamos para isto acontecer, mas sabemos que há outras componentes que tornam isso mais difícil de acontecer. É difícil saber quando e como um clube angolano vai conquistar um troféu africano.

Como é que o Petro consegue manter-se na elite africana, sem o mesmo poder financeiro dos adversários?
O futebol é feito dentro de campo. Temos a matéria-prima em Angola, mas sabemos que competimos com equipas que chegam sempre longe, com jogadores bem pagos.

De nossa parte é tudo. Ainda há espaço para acrescentar mais alguma coisa?
Agradeço pela entrevista. Acrescentar que o nosso grupo de trabalho foi feito em dois anos. É um grupo de jogadores guerreiros, comprometidos e que entram em campo dispostos a dar o seu máximo. O objectivo será sempre dar alegria aos adeptos tricolores. Depois de tanto tempo, com a direcção, equipa técnica e plantel conseguimos formar algo coeso que conquistou tudo em Angola nesses últimos dois anos.

“Bobó é o melhor central que enfrentei”

Ao longo das épocas, qual o defesa que exige mais de ti?
O clássico acaba por ser sempre o jogo mais intenso. Obviamente, Petro e 1º de Agosto ao longo dos sete anos em que aqui estou efectuaram grandes jogos, houve sempre uma tensão maior, cada equipa dificulta sempre a outra. É claro que o Bobó, 1º de Agosto, é o melhor central que enfrentei desde que cheguei ao Girabola. Ele sempre me dificultou em campo, porém, já fiz golos a jogar contra ele. Apesar disto, tenho todo o carinho e admiração por ele!

Num passado recente, o futebol brasileiro foi fértil no jogo de palavras entre os atletas adversários. Desde que chegou ao Girabola, já provocou antes de um jogo ou foi provado nas redes sociais, ou através duma SMS?
Nunca aconteceu, nem vai acontecer, pelo menos da minha parte, porque gosto de fugir da polémica. Sou muito focado e profissional naquilo que faço. Respeito quem faz estas coisas e até acho normal. É saudável, é legal fazer isto, mas para mim não faz muito sentido, é por isso que nunca me envolvi nestas coisas de polémicas e provocações, pelo contrário, evito sempre. Tento respeitar os outros. Quando estou no relvado aí está a minha vida, o meu ganha-pão, procuro correr o máximo possível para ajudar a equipa a ganhar.

in Jornal dos Desportos

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