No passado ano de 2017 começamos com a campanha “combate a corrupção”, de facto uns foram afectados através do que passou a ser designado arrestos/privatizações.
Uns tombaram mas outros resistiram, até porque a corrupção tem a ver com carácter, não se confina simplesmente nos aspectos normativos jurídicos. Por isso, ficou demostrado que é um processo moribundo à medida que não teve pernas para avançar.
Do ponto de vista ético-moral, a corrupção não se combate porque tem a ver com o carácter humano, logo deve ser combatida através da educação e pela educação. Por isso, no entanto, deveria se pensar em educar os cidadãos às boas práticas.
A corrupção não se confina às instituições jurídicas, como há poucos anos acompanhámos, pelo facto de existir vida antes e depois dos tribunais.
Se quisermos ser mais claro, podemos afirmar que a corrupção é como uma ferida feita no nosso carácter e a única forma de curá-la é antes sarar.
Repare que a corrupção está ligada ao comportamento humano que está depressível, é o agir que entra em situação degradante. Assim sendo, esse agir só se sara através da educação.
O que nos deixa de boca aberta é como esse processo não se alargou até à esfera social, pareceu mais como um fenómeno extra-murros, não teve um impacto no quotidiano ou nos nossos guetos, como uns diriam.
A corrupção antes de se alargar à esfera pública, ela está na esfera privada, ela está presente nas nossas casas, nas nossas escolas e na nossa quotidianidade.
O combate à corrupção deveria ser sinónimo de um investimento educacional, para produzir efeitos desejáveis. Por isso, é um contrassenso querer mandar para fora a corrupção do modus operandi dos cidadãos se a educação não entrar pelas portas das nossas escolas.
A corrupção é, sobretudo, uma questão de procedimento. Nos últimos tempos, a nossa maior preocupação passou a ser a formação de cidadãos competentes e capazes de responder de forma cabal aos desafios dos nossos dias, mas isso só é saudável quando ela tiver uma base ética.
Por essa razão, não somos apologista da afirmação segundo a qual a corrupção deve ser combatida, pois é também um problema metafísico ligado à ontologia humana. Ou seja, é um problema antropológico, como diriam os outros filósofos.
O projecto de educarmos os cidadãos contra a corrupção é tão grave que não poderíamos permitir que estivesse confinado somente aos tribunais, por razões que todos nós conhecemos e experimentamos.
A importância de dispositivos de controlos à corrupção são importantes, mas eles não transcendem a educação, é por ela que conseguimos domesticar a animalidade que habita em nós.
A educação sempre será o meio pelo qual as sociedades se emanciparão e, no nosso caso, não fugimos a regra. Ora é nosso interesse que a educação contra a corrupção se torne uma bandeira, pois o combate contra a corrupção é um atropelo filosófico.
*Professor e filósofo