Falta de humanização no sector da Saúde compromete o esforço do Governo – Francisca Augusto
Falta de humanização no sector da Saúde compromete o esforço do Governo - Francisca Augusto
Francisca Augusto

O sector da saúde tem registado, nos últimos anos, melhorias significativas, do ponto de vista da oferta de unidades sanitárias e de serviços especializados, como resultado do investimento do Estado, que começa, finalmente, a dar bons frutos.

Desde 2017, altura da ascensão do Presidente João Lourenço ao poder, Angola ganhou vários hospitais de referência, com equipamentos de ponta, para tratar doenças crónicas, o que tem reduzido as evacuações de doentes para o exterior.

Em pouco mais de oito anos, o país passou a ter condições técnicas e tecnológicas para cuidar de pacientes com doenças consideradas crónicas e de alta complexidade, como a insuficiência renal, os problemas cardiovasculares e respiratórios.

Fruto do investimento do Estado, o Serviço Nacional de Saúde conta, actualmente, com 39.325 unidades sanitárias, entre hospitais centrais, provinciais e de especialidade, que, apesar de serem insuficientes, trazem melhor qualidade sanitária aos angolanos.

De acordo com dados avançados em Outubro último, pelo Presidente João Lourenço, na sua Mensagem sobre o Estado da Nação, trata-se de 13 hospitais centrais e de especialidade, seis institutos, 23 hospitais gerais e provinciais, 172 hospitais municipais, 800 centros de saúde e 2.311 postos de saúde, perfazendo 3.325 unidades hospitalares.

No período em referência, o Governo investiu em infra-estruturas dos três níveis do Serviço Nacional de Saúde, tendo construído, ampliado, reabilitado e apetrechado 163 novas unidades sanitárias, 155 das quais para o primeiro nível de atenção.

Conforme os dados do Executivo, entre 2017 e 2022, a esperança média de vida dos angolanos aumentou quatro anos, ou seja, passou de 58 para 62 anos.

No mesmo período, indicam as estatísticas oficiais, a mortalidade de crianças menores de cinco anos baixou de 167 para 75 por mil nascidos vivos, sendo que o acesso aos cuidados primários de saúde triplicou, passando de 25% para 70%.

O número de camas hospitalares, que era de 13.426 até 2017, passou para 37.808 camas em 2022, ou seja, em apenas seis anos, o país ganhou 24.382 camas hospitalares.

Em 2017, apenas três províncias dispunham de serviços especializados de hemodiálise, enquanto em 2022 esse número passou para dez províncias, com uma capacidade de atendimento de mais de 3 mil utentes por semana.

Em relação aos quadros, 41.093 novos profissionais, entre médicos, enfermeiros, técnicos de diagnóstico e terapêutica, técnicos de apoio hospitalar e técnicos do regime geral ingressaram para o serviço público, só na última legislatura (2017-2022).

Entretanto, apesar dos significativos e inequívocos avanços, muito ainda deve ser feito ao nível do sector, fundamentalmente a maior capacitação dos operadores de saúde, para se resolver, de vez, o problema da falta de humanização dos serviços.

A falta de humanização é vista, hoje, de forma inquestionável, como uma das maiores fraquezas do Serviço Nacional de Saúde pública, o que deve merecer, da parte do Estado, em particular, e dos profissionais do sector, em geral, uma atenção especial.

Em relação a este assunto, o número de denúncias de falta de assistência nos hospitais públicos e privados, por negligência, tem vindo a aumentar, o que conforma um grande paradoxo, tendo em atenção os investimentos do Executivo no sector.

A falta de humanização nos estabelecimentos hospitalares, principalmente os públicos, continua a ser um fenómeno que compromete, sobremaneira, a relação entre pacientes e os servidores do sector da Saúde em Angola, levando, muitas vezes, à descredibilização de um sector fulcral para o país, manchado pelo despreparo de alguns técnicos.

Na verdade, este é um problema visível com que os cidadãos se deparam todos os dias, em todo o país, o que exige a tomada de medidas urgentes, da parte do Estado, seja no recrutamento dos técnicos, seja na fiscalização dos serviços.

Só nos últimos cinco anos, foram registados e divulgados, em Angola, dezenas de casos de negligência médica, que resultaram em óbito, a maior parte na província de Luanda.

O caso mais recente ocorreu no Hospital do Prenda, onde um paciente de 40 anos de idade perdeu a vida por alegada falta de assistência “deliberada”, que resultou na suspensão da equipa clínica e na expulsão do médico de banco.

Antes do caso acima, Luanda registou outro, que fez eco na imprensa e nas redes sociais, envolvendo um jovem de 24 anos de idade, que perdeu a vida à porta do hospital Américo Boa Vida, por suposta “negligência médica”.

Trata-se de situações que comprometem todo um esforço do Governo angolano, que tem vindo a aumentar as verbas do sector da Saúde no Orçamento Geral do Estado, para melhorar a qualidade da assistência médica no país, que não podem ficar impunes.

Se, por um lado, o país avançou em infra-estruturas, nota-se, por outro, o despreparo de muitos profissionais da saúde, que, apesar dos conhecimentos técnicos e científicos recebidos, demonstram falta de amor ao próximo e, consequentemente, aos pacientes.

É por todos sabido que a humanização assenta nos relacionamentos interpessoais de qualidade, baseados, sobretudo, na ética. Isto parte de um olhar diferenciado em direcção ao paciente, enxergando-o como um ser humano que necessita de acolhimento.

Apesar do domínio desses conceitos, ainda é comum assistir, nos hospitais, grande morosidade na abertura de processos do paciente e prestação de primeiros socorros.

Como se não bastasse, esses mesmos hospitais registam, em algumas situações, mau funcionamento dos bancos de urgência, por deficit de médicos, enfermeiros, técnicos de serviços administrativos, bem como o corpo de segurança das unidades hospitalares.

Vezes sem conta, estes últimos fazem abordagens agressivas e intimidatórias, sem o mínimo de respeito e solidariedade para quem busca os hospitais como o melhor lugar para salvaguardar a vida e restabelecer a saúde.

Estes factos revelam a falta de empatia destes profissionais, que juraram salvar vidas e de quem se espera uma atitude diferente daquilo a que se assiste em alguns hospitais.

Apesar de episódios menos bons, há profissionais de saúde que, com afinco, se doam para salvar vidas, e merecem, por isso, o respeito e encorajamento da sociedade.

Com mais humanização dos prestadores de serviços nos hospitais, haverá, certamente, melhor qualidade no atendimento e maior valorização do esforço do Governo.

Por isso, impõe-se a melhoria do atendimento nos serviços públicos, para aumentar a competitividade e a confiança do cidadão nos serviços hospitalares, sobretudo públicos.

É hora de o país dar, definitivamente, a volta por cima e tratar com amor e eficiência os seus doentes, a fim de reduzir, de forma gradual, o número de pacientes que buscam por assistência médica e medicamentosa no estrangeiro, um processo já em curso.

É certo que a humanização do atendimento nos hospitais públicos consta das políticas do Executivo, visando a redução das mortes prematuras e de doenças evitáveis, para melhorar o índice de desenvolvimento humano, o aumento da produtividade, o crescimento económico, a prosperidade da Nação e o bem-estar da população.

Mas tudo isso só terá resultados se se tomarem medidas duras contra todos os que, sem fundamento plausível, negarem assistência hospitalar a alguém, expondo os pacientes a um estado de mendigos e fraqueza mental.

Não se pode aceitar que servidores públicos, pagos com recursos dos contribuintes, continuem a destratar pessoas que buscam assistência médica nos hospitais. É preciso agir com espírito patriótico, porque a vida não tem preço.

É, de resto, essa visão do médico e docente universitário Euclides Sacamboio, que considera urgente o aumento de médicos, porquanto o grau de cobertura ainda não é o desejável, apesar de haver médicos desempregados.

Para o especialista, a humanização dos serviços de saúde em Angola deve passar, primeiro, pelos profissionais de saúde, de forma a criar condições para que os mesmos sejam formados com qualidade e rigorosidade e tenham salários condignos.

De nada adianta investir na saúde, com a construção de mais hospitais de referência, se faltar amor a quem tem a missão de salvar vidas. É hora de o médico, o enfermeiro e o pessoal de apoio nas unidades hospitalares mudarem de consciência e protegerem o bem-vida.

É, de facto, essa humanização que se quer. Os pacientes precisam de afecto.

*Jornalista da Angop

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