Governo deve reconhecer Savimbi e Holden como nacionalistas percursores da luta de libertação colonial – Ismael Mateus
Governo deve reconhecer Savimbi e Holden como nacionalistas percursores da luta de libertação colonial - Ismael Mateus
neto holden e savimbi

Por ocasião de mais um aniversário da morte de Holden Roberto, assinalado a 2 de Agosto, a FNLA voltou a pedir o reconhecimento do seu líder fundador como herói nacional.

O tema da reconciliação nacional, como em quase tudo no nosso país, tem excesso de partidarização, o que impede a sociedade de ter uma análise desapaixonada sobre o processo.

Tanto países africanos como as Nações Unidas reconhecem o processo de Angola como exemplar, mas internamente as divergências políticas impedem-nos de valorizar suficientemente o mérito que os outros reconhecem na realidade angolana.

Entre os elementos mais significativos do nosso processo está sem dúvidas a formação de Forças Armadas Únicas; a decisão de criação da Comissão para a Implementação do Plano de Reconciliação em Memória das Vítimas dos Conflitos Políticos (CIVICOP) e, mais recentemente, as condecorações de mais de 400 personalidades e instituições de diferentes segmentos da sociedade angolana.

Tem havido um trabalho de busca de reconciliação dos espíritos, mesmo que os políticos nas suas divergências façam muitas vezes recurso às dolorosas memórias dos conflitos. Foi particularmente significativo o acto público de sepultura com honras militares dos restos mortais de Nito Alves, Sianuk, Jacob Caetano, Ilídio Ramalhete e outros.

Outro momento significativo do processo foi o pedido público de desculpas feito pelo Presidente João Lourenço em Maio de 2021, assim como a construção em Luanda de um “memorial” em homenagem a todas as vítimas de conflitos políticos registados no país.

No entanto, o processo de reconciliação nacional em Angola está longe do fim. A história do país está carregada de episódios e de figuras que desapareceram de modo estranho e não tiveram o funeral condigno que mereceriam.

Os casos mais mediatizados são naturalmente os do 27 de Maio e o das fogueiras da Jamba, mas existem ainda outros. A lista de desaparecidos ou de mortes por explicar é imensa, entre os quais podemos encontrar de modo aleatório nomes como Matias Migueis, Deolinda Rodrigues e suas Companheiras, Wilson dos Santos, Jorge Sangumba e António Vakulukuta; Virgílio Sotto Mayor, as vítimas da chamada sexta-feira sangrenta de Luanda e ou mesmo dos cercos das cidades do Bié e do Huambo.

A ausência de um corpo para enterrar condignamente e a atitude pública de reconhecimento da morte ou de pedido de perdão, são partes significativas do nosso processo e por isso é importante que continuem a ser feitas para que as famílias possam finalmente realizar os seus rituais de luto.

Outro passo significativo que deve continuar é o processo das condecorações, que deve ser alargado a muitas outras figuras da nossa luta de libertação, sejam elas afectas aos movimentos de libertação, religiosos ou anónimos da clandestinidade.

Chegados aqui, sente-se a necessidade do processo de reconciliação nacional conhecer um novo élan, um novo salto que permita aumentar a paz de espíritos e fortalecer a irmandade entre os angolanos.

Defendemos, por um lado, a institucionalização de um Dia do Perdão e, por outro, o reconhecimento de Holden Roberto, Agostinho Neto e Jonas Savimbi como percursores da luta de libertação nacional contra o colonialismo.

No dia do perdão nacional, as instituições e as pessoas envolvidas em actos que tenham lesado outrem, devem realizar pronunciamentos públicos de arrependimento, tolerância, perdão e reconciliação, ainda que os ofendidos não sejam conhecidos ou que os autores morais não existam.

Os protagonistas da história recente, tanto colectivos como individuais ou seus descendentes, deveriam nesse dia pedir desculpas pelo seu passado de guerra, de violação dos direitos humanos ou de violência entre angolanos, que dilacerou familiares e criou um exército de desaparecidos.

O outro passo que já se faz necessário é o reconhecimento público do papel desempenhado por Agostinho Neto, Jonas Savimbi e Holden Roberto.

O líder da FNLA já foi condecorado pelo Estado angolano e o fundador da UNITA teve direito a um funeral público condigno, apesar de morto em combate. Cabe agora ao Estado angolano dar o passo seguinte e assegurar que tenhamos ruas, avenidas, largos, estátuas, instituições públicas com o nome desses nacionalistas.

É preciso deixar que seja a história, a investigação académica e o tempo a darem a cada uma destas personagens o lugar merecido na História de Angola. Todos eles, sem excepção, são merecedores de elogios por coisas boas feitas, mas também motivo de crítica pelos grandes erros cometidos. Não existem referências políticas imaculadas e cabe à história encontrar o lugar de cada um.

Ao Governo angolano pede-se uma atitude de maior equilíbrio e distanciamento das querelas políticas. Ao Presidente João Lourenço pede-se também que ouse ficar na história pondo mais um tijolo no edifício da reconciliação nacional.

Já ficará na história como aquele que criou a CIVICOP e permitiu os funerais de Savimbi, Nito Alves, Monstro Imortal e outros. Para vincar ainda mais o seu legado deveria reconhecer Holden Roberto e Jonas Savimbi, ao lado de Agostino Neto, como nacionalistas percursores da luta de libertação colonial.

Estamos todos nós já preparados emocional e psicologicamente para esse passo? Obviamente que não, mas é exactamente por isso que se exige um processo de reconciliação.

O grande óbice é uma vez mais a propaganda política. Os partidos políticos não se cansam de, por um lado, procurar diabolizar os seus adversários políticos e, por outro, endeusar os seus líderes minimizando os erros cometidos, desvalorizando as vítimas e omitindo os aspectos negativos da personalidade dessas figuras.

É exactamente por isso que precisamos que o Presidente João Lourenço tenha a coragem de colocar a reconciliação nacional num patamar acima, com o reconhecimento público dos percursores da luta de libertação, para além de possibilitar que os diferentes episódios da história recente estejam abertos aos historiadores, investigadores e outros estudiosos.

*Jornalista e escritor in JA

OBS: O título é da inteira responsabilidade deste portal.

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