O nacionalista Ngola Kabangu defendeu, em Luanda, que a actual direcção da FNLA deve traçar uma política clara, coerente e responsável para assegurar o enquadramento sócio-económico dos Antigos Combatentes e Veteranos da Pátria.
Ngola Kabangu dissertava, quarta-feira última, na Casa da Juventude de Viana, por ocasião do 61º aniversário do Exército de Libertação Nacional de Angola (ELNA), braço armado da FNLA, assinalados a 16 de Agosto.
O antigo presidente da FNLA realçou a necessidade de a actual direcção do partido ter coragem, capacidade e personalidade para exigir ao Executivo o respeito e a integração sócio-económica dos antigos combatentes do ELNA.
Segundo o histórico nacionalista, é preciso encarar o assunto com maior seriedade, de tal modo que os processos sejam bem encaminhados, e que haja maior pressão sobre o Executivo para ver melhorada a condição social dessa franja de cidadãos angolanos, que deram o seu melhor para libertar o país do colonialismo.
Para Ngola Kabangu, o antigo combatente é a coluna central e pilar da família FNLA, pelo que deve ser adoptada uma estratégia para que se melhore a sua situação de vida.
“Não podemos aceitar que um antigo combatente aufira o subsídio vigente, por não corresponder com as necessidades dos beneficiários. Para mais, há ainda outros heróis vivos que precisam de ser enquadrados, acarinhados, estimados e respeitados”, disse, para alertar que espera que não seja mal compreendido.
Quanto aos antigos combatentes filiados à FNLA, Ngola Kabangu entende que, caso seja necessário, o partido pode criar uma estratégia interna para que trate das condições que se pretendem para melhorar a vida dessa franja de cidadãos e os fundos saiam dos seus cofres.
“O partido tem de se empenhar, apesar das poucas condições financeiras. É um apelo fraterno que faço ao presidente da FNLA e à sua direcção, que se debrucem seriamente para ver melhorada a situação dos antigos combatentes”, frisou.
Ngola Kabangu defendeu, por outro lado, que o partido deve criar uma agenda para honrar os membros fundadores e antigos combatentes falecidos com homenagens, menções e recordações, bem como cuidar um pouco mais daqueles que ainda se encontram em vida.
Segundo Ngola Kabangu, o ELNA foi um exército determinado, que se afirmou na Luta de Libertação, tendo levado o líder da FNLA a tomar decisões importantes para o fim da batalha contra o jugo colonial.
“Apesar das dificuldades logísticas, lutaram, enfrentando algumas convulsões internas, incompreensões e criaram as condições para que a 14 e Outubro de 1974 houvesse um acordo de cessar-fogo, na sequência de um encontro, em Kinshasa, entre uma delegação da FNLA o exército colonial português, representados por Holden Roberto e o general Fontes Pereira de Melo”, disse, sublinhando que, apesar da participação ferrenha na Lua de Libertação Nacional, os membros do ELNA continuam a ser denegridos.
“Apesar de mortos, alguns membros do ELNA são insultados, pois cospem sobre as suas campas”, denunciou.
Kabangu acrescentou que o ELNA foi um exército composto maioritariamente por camponeses e patriotas, cujos mais destacados comandantes, já falecidos, foram destemidos, experientes e bravos.
O histórico nacionalista da FNLA citou nomes como os de José Calundungo, primeiro chefe do Estado-Maior do ELNA, além dos comandantes Pinto Luvambo “Leão”, Gingongo “Gigante de Nambuangongo”, Reverendo Gomes Miranda, Timóteo Nfunfo “Paka ou Mbuige”, Panzo da Glória e Afamado, que merecem ser homenageados.
Partido inclusivo
O nacionalista afirmou que a FNLA nunca foi um partido tribalista e que a luta na qual sempre esteve empenhada nunca foi tribal, lembrando que o movimento integrou membros de várias regiões etno-linguísticas.
Ngola Kabangu disse que a FNLA tinha células e membros oriundos do Cuanza-Sul, Bié, Malanje e Benguela.
“A nossa luta nunca foi dos Bakongo, pois havia no partido e no ELNA umbundos, ambundos, kikongos, cokwes e nganguelas”, explicou Ngola Kabangu, que foi responsável do Departamento de Pessoal do Estado-Maior do ELNA.
Em 1991, juntamente com Holden Roberto, o líder do movimento, Ngola Kabangu foi condecorado com a medalha de Antigo Combatente do 1º Grau, por José Eduardo dos Santos.
Desejo testamentário
Ngola Kabangu manifestou o desejo de ver a medalha de Antigo Combatente do 1º Grau sobre o seu caixão, assim como a bandeira da FNLA. “É um desejo meu pelo que dediquei à FNLA e à política angolana”, disse.
Apesar de ter um diploma de engenheiro electrónico, passado pelo Instituto Superior de Electrónica da Eslovénia (quando ainda pertencia à República Federal Socialista da Jugoslávia), é na política que Ngola Kabangu se notabilizou.
Natural de Luanda, onde nasceu em Fevereiro de 1943, integrou a UPA (antecessora da FNLA) em 1958, tendo sido, posteriormente, ministro do Interior no Governo de Transição.
Antigo vice-presidente da FNLA durante a liderança de Holden Roberto, Kabangu sucedeu ao líder histórico em 2007, após a morte deste. O engenheiro foi substituído na liderança do partido, em 2011, durante o III Congresso, cujas eleições foram ganhas pelo sociólogo e docente universitário Lucas Ngonda.
in JA