Pensar em comum em tempo de crise – Filipe Cahungo
Pensar em comum em tempo de crise - Filipe Cahungo
Filipe

Cada geração é julgada por aquilo que é capaz de fazer e pelas respostas que dá aos problemas que se apresentam. Os gregos, por exemplo, definiram a crise como o momento com o qual o homem se afasta do objecto do conhecimento. Ou seja, quando o sujeito do conhecimento se distancia do objecto para fazer uma leitura crítica.

Entretanto, os asiáticos compreendem por crise como momento de oportunidade, não no sentido Cronos mas no sentido Kairos. Já nos tempos contemporâneos, como é óbvio, entendemos por crise como a superabundância de oportunidades.

Em tempos de crise, a justiça deve ser a bandeira para os Estados que se comprazem pela vida digna dos seus cidadãos. Não é da justiça dos tribunais que nos referimos apenas, mas sim da justiça como o valor que está pela rente como, tal como afirma Derrida: “A justiça é a linha vermelha que estabelece limite para a defesa dos mais fracos“.

Os Estados são avaliados por aquilo que são capazes de fazer pelos mais pobres. Pois é, a pobreza hoje se tornou numa instituição.

A pobreza antes era uma realidade extra murro, nos dias de hoje ela entrou nas nossas residências, transformou-se num novo membro de nossas famílias; é bom que fique claro, não se trata de um hóspede que a qualquer momento sairá, ela veio para ficar.

Uns abraçaram a máxima segundo a qual; cada um por si Deus para todos. Praticamente está declarada a luta contra os pobres, por isso nos expolimos dos mais fracos para nos tornarmos em grandes.

A história nos mostrou, a título demonstrativo, que a Alemanhã e o Japão pós-segunda guerra Mundial só sairam da crise do qual estavam mergulhados por causa do pensar comum da Nação. Ou seja, foi por via desse pensamento comum que tais povos ultrapassaram a miséria humana e económica.

Dito de modo simples, não foi simplesmente através da solução económica que tais povos abandonaram a crise a que estavam mergulhados, mas também através da erradicação da miséria humana.

Nós escolhemos como prioridade a erradicação da miséria económica, foi o primado do económico que se tornou-se centro e relegamos o primado antropológico à periferia. A geração milenária cresceu a ouvir o seguinte slogan: o MPLA é o povo e o povo é o MPLA. De facto, uma parte dos angolanos pertence a classe dos militantes, simpatizantes e amigos do MPLA.

O nosso saudoso primeiro Presidente e patrono dos escritores, repetia a bom tom que o mais importante era “resolver o problema do povo” e, com certeza que, tinha a plena consciência do pensar e caminhar junto; daí a seguinte frase: “de Cabinda ao Cunene um só povo e uma só Nação”.

Pensar em comum é reconhecer que cada um tem responsabilidades para a construção da Pátria, para sairmos da crise em que nos encontramos.

Temos que redefinir as nossas prioridades, porque os tempos de crise se impõe e requer que encontremos o essencial para aquilo que deve ser a nossa meta prioritária, e em segundo lugar definirmos tudo aquilo que se constitui supérfluo e efémero.

Temos que ser construtores de utopias, tal como fizeram os Cabrais, os Netos, os Mondlanes, os Savimbes e os Holder Robertos. Precisamos ousar para resistir. A solução da crise é pensarmos juntos nas possíveis alternativas.

*Filósofo e professor

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