Último Adeus ao Professor Laurindo Vieira – Joaquim Xanana
Último Adeus ao Professor Laurindo Vieira - Joaquim Xanana
L vieira

A pedagogia da morte consiste em reconhecer o princípio da transformação incessante ou inesperado, a que todos estamos sujeitos. Nesta dimensão levou-nos a ver, com olhos secos de lágrimas e o coração em pranto, o regresso do Mestre Laurindo Vieira ao seio da mãe Terra. Deste particular quis o destino que prematuramente deixasse a convivência entre nós.

É natural cultivarmos, o sentimento de gratidão, para com os nossos entes queridos. A morte e o luto a ela associado é uma experiência inevitável no percurso de vida de cada um de nós, onde enquanto isso, e na adversidade, assumiste uma conduta ímpar e que deverá constituir o exemplo a seguir por muitos. O vazio que fica é irreparável, na comunidade científica nacional e não só.

Esta orfandade, estende-se aos seus familiares, amigos, discentes, admiradores, na classe castrense, politica e, acima de tudo na galeria das artes e das letras.

O seu espírito alegre, o semblante sempre despontava aquele sorriso que nos contagiava com fraternidade e amizade. A sua disponibilidade, para ouvir quem o interpelasse, a forma empenhada como se dedicava a todas as causas que abraçou, referencialmente com elegância na relação com o próximo. O seu carácter, notabilizou-lhe num cidadão, com qualidades intelectuais ímpares, no esteio da pirâmide do saber.

Que vais, deixar saudades, naqueles que apostam e impulsionam para sociedades do conhecimento, e dos credos e quadrantes das ciências do desenvolvimento humano e outros.

Na minha memória vai ficar registada para sempre as suas intervenções pedagógicas como comentarista eloquente, nos órgãos de comunicação social nacional, cuja dimensão se destacaram pelos seus argumentos, técnicos e científicos, para com as causas da independência nacional, consubstanciado no desenvolvimento socioeconómico e cultural.

No âmbito da nossa convivência enquanto discente, solicitei-o por estima e admiração. Para apadrinhar a minha incursão, para o mar das letras, traduzido no meu primeiro rebento literário (obra). Por via do qual, prontificou-se, impulsionou com a âncora simbólica, consubstanciado na contribuição solidária, para a edição da referida obra com o titulo de capa” A Produção Pesqueira em Angola-Um Recurso Valorizado”, publicado em 28-02.019.

O nosso agradecimento para este gigante, da geração do saber, sobre o marco da educação e cultura em Angola, expressando: “Ao ilustre professor Dr. Laurindo Vieira, por ter sido, o primeiro a predispor-se com reflexões e sugestões sobre aquela nobre iniciativa”.

Nesta hora do adeus, curvo-me antes à memória do académico e escritor, recordando versos imortais do poeta máximo (Agostinho Neto), que valem por toda a literatura do mundo:

(…) os batuques choros de África/ nos sorrisos choros de África/ nos sarcasmos no trabalho choros de África/ sempre os choros mesmo na vossa alegria imortal/ meu irmão Nguxi e amigo Mussunda/ no circulo das violências/ mesmo na magia poderosa da terra/ e da vida jorrante das fontes e de toda a parte e de todas as almas/ e das hemorragias dos ritmos das feridas de África/ e mesmo na morte do sangue ao contacto com o chão/mesmo no florir aromatizado da floresta/mesmo na folha/ no fruto/ na agilidade da zebra/ na segura do deserto/ na harmonia das correntes ou no sossego dos lagos/ mesmo na beleza do trabalho construtivo dos homens/ choros de séculos/ na servidão/ em história de dramas negros almas brancas preguiças/ e espíritos infantis de África/ as mentiras choros verdadeiros nas suas bocas! O choro dos séculos/ onde a verdade violentada se estiola no círculo de ferro/da desonesta força (…).

Ou então este versos: para aqui estou eu/ Mussunda amigo/para aqui estou eu/. Contigo/ com a firme vitória da tua alegria/ e da tua consciência/ O ió kalunga ua mu bangele! / O ió kalunga ua mu bangele-lé-lelé… lembra-te? Da tristeza daqueles tempos/ em que íamos/ comprar mangas/ e lastimar o destino/ das mulheres da Funda/ dos nossos desesperos/ e das nuvens dos nossos olhos/ lembras-te? / Para aqui estou eu / Mussunda amigo/ (…) Mas no espírito e na inteligência/ nós somos! / Nós somos/ Mussunda amigo/ Nós somos (…)”.

José Saramago, no livro A jangada de pedra, escreveu: “dificílimo acto é o de escrever, responsabilidade dos maiores (…). Basta pensar no extenuante trabalho que será dispor por ordem temporal os acontecimentos, primeiro este, depois aquele, ou se tal mais convém as necessidades do efeito, o sucesso de hoje posto, antes do episódio de ontem, e outras não menos arriscadas acrobacias (…)“.

Professor Dr. mostrou que pela educação e cultura, reforçaríamos a integração para juntos percorrermos e defendermos causas comuns, com ética e princípios. E esse não foi o seu legado menor.

Dr. Laurindo, eterno descanso!

*Psicólogo

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