Um país desavindo unido pela coluna do Gibelé? – Evaristo Manassés
Um país desavindo unido pela coluna do Gibelé? – Evaristo Manassés
Evaristo Mana

A questão da efetivação da Reconciliação Nacional é ainda um “sonho”, se comparado ao que se pretende e se diz a respeito, pois (quase) todo o elemento indicado neste âmbito não tem sido consensual. É o caso de várias datas, como por exemplo, o Dia Nacional da Juventude, o Dia do Herói Nacional, e tantas outras datas, locais e sítios, símbolos, etc., sobretudo entre as principais forças políticas de libertação.

Este quesito tem dificultado, e muito, o processo de efectivação da reconciliação nacional, volvidos mais de 21 anos de paz do calar das armas e cessar-fogo da guerra civil em 2002.

Apesar de todos os esforços evidenciado por todos angolanos, com realce ao Estado angolano, por intermédio de vários programas e projectos neste âmbito, como por exemplo, recentemente, a CIVICOP (Comissão de Implementação do Plano de Reconciliação em Memória dos Conflitos Políticos), os Partidos Políticos envolvidos na guerra civil, mormente o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) e a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) e toda a Sociedade Civil Organizada – e não só, até antes da exibição inesperada e positiva da Seleção Nacional de Futebol Sénior Masculino durante o Campeonato Africana das Nações (CAN), os angolanos já não estão tão sóbrio sobre a última vez que se sentiram unidos numa só causa de facto.

Face ao actual contexto sócio-econômico, com o custo de vida elevado a níveis jamais registrados desde que Angola se fez Nação independente, desemprego alarmante, sistema de saúde e educação ainda a inspirar cuidados, poderia se julgar impossível os cidadãos angolanos que se encontram nestas condições, que são a maioria, poderiam encontrar ainda motivos para se orgulhar de cá ter nascido e fazer nascer o sentido patriótico e “Amar Angola”.

Os angolanos acharam na “Coluna do Gibelé” um símbolo de refúgio para gritarem “alto” que são angolanos e, apesar de tudo, amam sua terra.

Independentemente das diferenças existentes no seio dos cidadãos e discórdias por crença religiosa, filiação político-partidária e outras ideologias, os angolanos voltaram a se unir como ocorreu outrora no processo que culminou com a Independência em Novembro de 1975.

Com as músicas e danças peculiares do nosso estilo “Kuduro”, antes e depois de cada partida, a máxima de Dr. António Agostinho Neto, “Um só Povo, uma só Nação” voltou a ser vivido.

Nas redes sociais, o maior palco de liberdade de expressão do mundo, os angolanos expressavam suas opiniões e a maioria se referenciava na necessidade de “Gibelé” tomar cuidado especial da sua coluna, pois os angolanos, todos, acredita(va)m que foi um grande diferencial para as performances incontestáveis de cada partida. Houve até um grupo mais ousado que sugeriu a troca da catana pela coluna na bandeira nacional.

Apesar da tentativa e até algumas bem-sucedidas de se tirar proveitos do momento para benefícios “inconfessos”, e apesar de a Seleção Angolana não ter se apurado a fase seguinte nos quartos de final, o sentimento de unidade se manteve, a recepção foi calorosa como se um campeão se tratasse; um dos poucos momentos onde parece que se esqueceu, por instante, o quanto a vida estava mais cara para todos, onde não se questionou ideologia política, crença religiosa, status social ou qualquer outro estigma. Só se falava, todos, da Coluna do Gibelé, que da Costa do Marfim, unia todos os angolanos.

Talvez seja esta a oportunidade que se dá daqui para frente a unidade seja cada vez mais promovida com actos e momentos que não dá espaço para estigmação e desunião entre angolanos; é importante elevar o sentido patriótico dos cidadãos para que este espírito seja cada vez mais vivido.

Não seríamos o primeiro povo que do desporto se reencontra e solidifica sua reconciliação entre irmãos e constrói uma Nação mais coesa e unida; o desporto tem uma forte influência na sociedade, sobretudo o desporto rei, o Futebol.

O grande Nobel da Paz em 1993, Nelson Mandela, é um exemplo vivo deste facto, pois, por intermédio de sua liderança, promoveu a reconciliação nacional de seu país e alcançou a paz, justiça e a igualdade.

O carismático líder sul-africano encontrou auxílio no desporto para promover mudanças sociais significativas durante e pós Apartheid. O futebol, por exemplo, foi um dos desportos utilizados para unir uma nação que estava dividida racialmente.

O desporto é capaz de transcender fronteiras, crenças e ideologias, etnias, culturas ou até status; para além da África do Sul, outras nações viram no desporto suas nações reconciliadas e unidas, como por exemplo o “Ping Pong Diplomacy” durante a Guerra fria entre a China e os Estados Unidos de América; e em Angola, a coluna do Gibelé.

*Líder juvenil e activista social

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