A prática do carnaval, apesar de ser uma celebração associada à cultura europeia, os bantu de Angola praticam-na à sua maneira. Trata-se de um período para celebrar a cultura. O carnaval, como matéria, herdamo-la da experiência colonial, mas na sua forma ou no conteúdo é celebrada à maneira angolana, ou à forma mwangolé, a nossa genialidade reside no facto de introduzirmos os nossos valores culturais nessa prática.
Assim, nós dançamos a kabetula, a rebita e a kazukuta; só para citar algumas danças. A partir de alegorias, representamos a vivência quotidiana.
Agostinho Neto, ao instituir a instituição do carnaval, convidou-nos a irmos às ruas para dançarmos o carnaval, queremos crer que a intenção de Neto fosse que celebrássemos as nossas culturas através da materialização dos nossos valores imateriais.
Mas os dias de hoje constituem desafios para nós, porque a cultura da banalidade, do Facebook, do WhatsApp e do sedentarismo fazem parte das nossas vidas, por esta razão torna-se pertinente indagamo-nos: o que significa celebrar o carnaval nos nossos dias?
Vamos às ruas para dançarmos o carnaval da vitória, mas também para dançarmos as nossas malambas e as nossas alegrias, pois dançaremos o carnaval com todo o nosso ser e a presença dos nossos ancestrais.
Neste carnaval somos convidados a celebrarmos as nossas culturas, porque são as nossas culturas são elementos que nos diferenciam com os outros povos, é também momento oportuno para repensarmos a nossa angolanidade; não que sejamos apaixonados pelo passado, nem tão pouco pelo presente, queremos que seja um passado presente nosso hoje para nos ajudar a construir um futuro completo.
Assim, o nosso carnaval é essa simbiose entre o ontem e o hoje e, por isso, era bom que não nós confinássemos só nessas duas categorias do tempo, nos abrindo também para o futuro.
Sentimos saudades de ouvir a nossa kusungila retratando a nossa kianda e dos sons produzidos pela dikanza ou o reco-reco, agora tudo mudou como canta o então falecido “Man Borrô”.
Esperemos que esta mudança não seja tão profunda ao ponto de não sabermos mais quem somos, festejemos só o carnaval porque nada está perdido, pois a cultura jamais será esquecida e jamais será tão nova pelo facto dela ser esse jogo de cintura entre o estável e o dinâmico.
É carnaval, venha e fantasiemos os nossos sofrimentos para buscarmos e fazermos nascer das cinzas, o que nos torna mais humanos e mais angolanos. Deixemos de lado as nossas diferenças.
Na verdade, não é sobre se você é cristão, muçulmano, pan-africanista, ateu, agnóstico, é sobre a nossa angolanidade que estamos a ser chamados a celebrar nesse carnaval; por isso enchamos as ruas para celebrar os nossos antepassados.
Chame o teu vizinho para celebrar a nossa cultura e a nossa vitória e que vença o melhor. Que seja um carnaval onde o folclore e o moderno possam coabitar para aproveitarmos o melhor que cada um possa nos fornecer.
É bonito ver nas nossas marginais aquele colorido, as alegorias das nossas circunstâncias através das lamentações, das canções nostálgicas incorporadas no feminino e as animações dos nossos blocos.
Viva o carnaval da vitória, e viva o carnaval da nossa angolanidade.
*Filosofo e professor