Pai de “Gildo das Ruas”, activista condenado por ultraje ao Presidente da República, João Lourenço, lamenta falta de cuidados de saúde. “Tanaice Neutro”, outro activista, está numa cela solitária e continua à espera de uma cirurgia.
O activista “Gildo das Ruas” está a cumprir pena efectiva de dois anos e cinco meses de prisão por ultraje ao Presidente João Lourenço. Ele e mais três activistas foram detidos em Setembro quando tentavam realizar uma manifestação contra a proibição da circulação de mototaxistas no centro de Luanda.
Em entrevista à DW África, José Gonga, pai de Hermenegildo André “Gildo das Ruas”, diz que o filho contraiu tuberculose na cadeia e que “está a receber os medicamentos, mas a alimentação é caótica”.
“À hora em que eu o visitei, por volta das 13h00, disse-me que ainda não tinha almoçado e com a medicação é complicado”, relatou.
O activista foi, entretanto, transferido da Comarca Central de Luanda (CCL) para o Hospital Prisão de São Paulo, onde está a receber tratamento.
José Gonga lamenta a situação do filho. “Quando uma pessoa fica presa por causa de uma manifestação, como se vai sentir? Sente-se mal. Todos nós, a sua família, sentimo-nos mal. O Estado angolano devia tratar deles como filhos e não como inimigos de Angola”, lamenta.
Na solitária há mais de um mês
Gilson da Silva Moreira, mais conhecido por “Tanaice Neutro”, é outro activista detido que não está bem de saúde. Antes da sua detenção e condenação, tinha uma cirurgia agendada para 14 de Novembro, na Namíbia. Encontra-se agora numa cela solitária, em Kakila.
“Disseram que está ali porque todo o recluso que é transferido de uma cadeia para outra tem de ficar 15 dias nesta mesma cela. Mas passado um mês, o ‘Tanaice’ continua na mesma cela solitária”, explicou Simão Cativa, amigo do activista.
A DW África contactou os Serviços Prisionais de Angola, mas não foi possível obter um comentário.
À espera da libertação
Além destes dois activistas, a 19 de setembro foram ainda condenados, a dois anos e cinco meses de prisão efetiva, Adolfo Campos e “Pensador”. Na altura, os advogados recorreram da decisão, alegando falta de provas para as condenações.
O pai de “Gildo das Ruas” acredita na libertação do filho e acrescenta que o Estado “não precisa de criar mais heróis sob acusação de ultraje ao Presidente angolano”.
“Ele constituiu-os como presos políticos, o que não é digno. Quer dizer, está a constituir mais heróis no país. Isso é muito perigoso. Eu acredito na libertação, porque confio no recurso. O recurso que foi interposto é que os vai libertar”, afirma José Gonga.
Nas redes sociais há ondas de apoio e campanhas de indignação, apelando à libertação imediata dos activistas e comentando que “manifestação não é crime”.
in DW